domingo, 11 de julho de 2010

Lírio

Um dia eu estava caminhando sobre a terra, em um gramado muito alto, selvagem. Meus pensamentos estavam no alto e os meus passos delicados, mas eu tinha um caminho, tinha uma missão. Meu fardo era leve e minha missão era obediência, era gratidão.

Mas nesse lugar separado e preparado, até mesmo nesse caminho guardado para mim ele apareceu. Eu não o queria, não o havia chamado, mas ele era encantador. Parecia me confortar e estimular. Mas me mostrou como meus pés descalços iam se machucando a cada passo. Disse me que todo aquele lugar, aquele lindo lugar deveria ser desfrutado um pouco mais, que minha doce e jovem vida deveria ser mais aproveitada. E que meu coração deveria conhecer a liberdade.

“Por que não parar para descansar?” ele me sugeriu. “Feche os olhos e sinta-se livre.” continuou. “Se preferir tenho visões mais agradáveis a você” insistia ele.

E meu fardo, que antes parecia tão leve, na verdade marcava minhas mãos e trazia dores aos meus ombros. Vi também que minhas vestes já não estavam tão limpas e novas. O que era alvo agora estava manchado e puído. E meus pés feridos haviam perdido o caminho.
As lembranças vieram , faziam me recordar de carinho e proteção. De um lar e comida farta. De um futuro confiante e de companheiros ao meu lado. Mas e agora o que seria de mim? O que eu poderia fazer? Estava em um lugar que não mais reconhecia, não tinha casa, não tinha comida, não tinha onde descansar meus pés moídos. Estava só. O que seria de mim?

Abaixei-me e abracei meus joelhos em desespero, e ele continuava a falar comigo. Sua voz me confirmava o que meus olhos agora viam. Eu estava só e perdido. Não havia mais belas promessas nem consolo nem maravilhas. Havia escárnio, mas ele era tudo o que eu tinha foi o que me disse. Só que isso também era mentira, como tudo o que ele havia dito.

Mas em meio as minhas lágrimas havia mais um som, que a principio parecia vindo de longe. Quase um sussurro. Havia alguém batendo numa porta e chamando. Batia não como quisesse invadir, não suave como se quisesse passar desapercebido. Batia com confiança e chamava com saudade. Chamava meu nome com amor. Pedia-me para que abrisse a porta.

Nesse momento houve um click. E meus olhos se abriram, mas as lágrimas não pararam. Meu choro agora era de vergonha e arrependimento. Eu não era mais digno de recebê-lo. Mas a verdade era que eu nunca fora. Mas ele nunca desistiu de mim.
Nesse momento eu vi um lírio, um pequeno lírio branco recém aberto. Ele era lindo, delicado. Simples e sem forças por si só. Um passo em falso o esmagaria. Uma chuva ou ventos mais fortes o arrancariam. Mas ele estava ali, lindo.

A vergonha foi levada e o arrependimento me colocou de pé.
E sem que eu percebesse o caminho estava de volta a minha frente. E eu não sentia mais dores, pois as feridas não estavam mais lá. Minhas mãos tomaram meu leve fardo e meus pés voltaram a caminhar sabendo o caminho que deveriam seguir.
E em minha mente Suas palavras e promessas se repetiam enquanto um sorriso se fazia em meu rosto.

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